[ a viagem
de chihiro ]
ANÁLISE SEMIÓTICA
Análise semiótica de A Viagem de Chihiro desenvolvido para a aula de Semiótica aplicada ao design do quarto semestre de design da ESPM-SP, projeto por Amanda Sabião, Ana Miyazaki, Anna Morais e Leonardo Baldoni, orientado pelo professor Guilherme Umeda.
[ 2019-02 ]
introdução​​​​​​​
O propósito deste trabalho é praticar os principais conceitos ligados à teoria semiótica no filme “A Viagem de Chihiro”, além de produzir um material gráfico que reflita a película. 
o diretor
biografia
Hayao Miyazaki, nascido em Tóquio em 1941, é um premiado cineasta japonês, além de produtor, roteirista, animador, escritor e mangaka. Em 1985, se tornou co-fundador do Studio Ghibli, um estúdio de cinema e animação, e recebeu aclamação internacional como sendo um contador de histórias magistral. É amplamente considerado um dos melhores diretores de animação. 
principais
obras
Meu amigo Totoro (1988) 
Representou o começo de seu sucesso financeiro garantido pela venda fenomenal de mercadorias do Totoro.
A Princesa Mononoke (1997)
O filme de sucesso quebrou recordes de bilheteria japoneses.
A Viagem de Chihiro (2001)
Conquistou o prêmio máximo no Festival Internacional de Cinema de Berlim de 2002, ganhou o melhor filme asiático no Hong Kong Film Awards e ganhou o Oscar de melhor filme de animação em 2003. O filme também foi vencedor do prêmio de melhor animação da sexta edição de Kobe, um evento de anime e mídias digitais. No Japão, ganhou o prêmio de melhor filme no Japanese Academy Awards de 2002 e substituiu Titanic como o filme de maior bilheteria na história japonesa.
Além de outras grandes obras de arte como: Nausicaä do Vale do Vento (1984), Laputa: O Castelo no Céu (1986), O Serviço de Entregas da Kiki (1989), Porco Rosso: O Último Herói Romântico (1992), Sussurros do Coração (1995), O castelo Animado (2004), Ponyo - Uma Amizade que Veio do Mar (2008),  Vidas ao Vento (2013) e seu último lançamento Memórias de Marnie (2014).
características
de estilo 
O tema mais recorrente dos filmes de Miyazaki é o amor pela natureza. O autor prega em suas películas os ensinamentos da religião de Shinto, na qual nós compartilhamos nosso mundo com uma variedade de deuses, assim como sua essência divina que conecta todos os seres vivos. Seus filmes causam um certo tipo de “estranhamento” em relação à cultura Ocidental pois neles o Homem não fica acima de nenhum ser, no Shinto tudo possui uma conexão divina, então o Homem não é o centro da relação. Miyazaki explora em seus universos o amor entre a natureza e o ser humano, assim como seus conflitos. As protagonistas de seus filmes são sempre mulheres empoderadas que sempre respeitam os espíritos assim como a vida selvagem. O autor sente que não há muita mídia sobre garotas independentes e o que já existia era focado em romance. “I felt this was not what they held dear in their hearts, not what they wanted. And so i wondered if i could make a movie in which they could be the heroines”, diz Miyazaki. Nós do ocidente tratamos a natureza pelo seu “valor instrumental”, pensando o que aquilo pode fazer pela gente, assim como é dito por Aristóteles no seu livro Politics: ”A natureza fez as coisas especificamente pelo bem do Homem” e não pelo seu “valor intrínseco”, o valor que ela tem por si mesma, é o que as protagonistas enxergam. Pensando na relação da natureza/espíritos e os seres humanos, no filme A Princesa Mononoke, explora a relação da tecnologia em conflito com os seres divinos. Nesse universo os seres humanos por causa da ciência acham que podem fazer qualquer coisa, mas é esse pensamento que os torna cegos de sua verdadeira essência. Na história as árvores são vistas como apenas madeira, as rochas como apenas minérios, e os deuses passam a ser apenas um empecilho, nada mais é sagrado pelos olhos dos seres humanos, e é dessa visão que começa o conflito. Em Totoro, a relação entre as duas partes é mais amigável. No filme os seres divinos são aceitos, respeitados e tratados como parte do dia-a-dia da sociedade. 
Em Nausícaa, há o conflito entre os insetos e os seres humanos, o filme é tão importante no âmbito do entendimento da natureza que ele possui o selo de aprovação do World Wildlife Foundation. Em O Castelo Animado é explorado a temática da guerra e como ela é um fator exclusivamente do egoísmo humano. Em Ponyo, há a visão que o ser humano não pode ser um ser humano e apoiar a natureza ao mesmo tempo, visto que o pai da protagonista deixa de ser humano para cuidar do oceano. Uma frase muito impactante do filme é quando ele diz: “They treat our home like their empty, black souls”, na qual ele expressa seu ódio contra os seres humanos. No final esse pensamento é invalidado pelo amor do Sousuke pela Ponyo ainda como peixe, mostrando que humanos podem sim amar a natureza e suas criaturas. Já em Laputa, há um equilíbrio entre a natureza e a tecnologia, visto que na cidade flutuante quem protegia os seres divinos era um robô. Esse filme é um bom exemplo da boa relação que as duas partes podem ter, até a interferência dos humanos em querer ter o poder da cidade. No filme analisado neste trabalho, a relação é invertida já que a Chihiro é a única humana (além de seus pais) que agora está em território divino, ela tem que se adequar ao seu cotidiano, suas relações e mediar entre os dois. 
Resumindo, Miyazaki explora em seus filmes o conflito entre o progresso humano e a ordem natural, assim como a persistência do mundo espiritual ao lado do mundano. Seus filmes incluem frequentemente as aventuras de personagens femininas fortes, fascinantes criaturas e belíssimos cenários surrealistas, bem como elementos fantasiosos e temas ecológicos humanistas, que invertem a visão ocidental de valor instrumental.
o filme
Ficha técnica 
Título original 千と千尋の神隠し (Sen to Chihiro no kamikakushi).
Diretor Hayao Miyazaki.
Roteirista Hayao Miyazaki.
País Japão. 
Elenco  Rumi Hiiragi (Voz: Chihiro), Miyu Irino (Voz: Haku), Yumi Tamai (Voz: Lin/Rin), Mari Natsuki (Voz: Yubaba/Zeniba), Bunta Sugawara (Voz: Kamaji), Ryunosuke Kamiki (Voz: Bô), Takashi Naitô (Voz: Akiko - mãe da Chihiro), Yasuko Sawaguchi (Voz: Yuko - pai da Chihiro), Akio Nakamura (Voz: Kaonashi - Sem face), Koba Hayashi (Voz: Kawa no Kami - Espírito do Rio), Tatsuya Gashuin (Voz: sapo Aogaeru), Yo Oizumi (Voz: sapo Bandai-gaeru), Tsunehiko Kamijô (Voz: Gerente Chichiyaku), Takehiko Ono (Voz: Assistente Aniyaku), Ken Yasuda (Voz: Oshirasama), Michiko Yamamoto, Kaori Yamagata, Shirô Saitô, Shigeyuki Totsugi, Yayoi Kazuki (Vozes adicionais).
Ano de lançamento 18 de julho de 2003 (Brasil), 20 de julho de 2001 (Japão), 10 de Abril de 2002 (França), 11 de Julho de 2003 (Inglaterra) e 28 de Março de 2003 (EUA).
Sinopse
Chihiro, uma jovem comum e mimada, está de mudança para uma nova cidade. Durante a viagem sua família se perde e se depararam com um parque de diversões abandonado. Lá, eles encontram um restaurante com uma enorme quantidade de comida e seus pais decidem devorar o banquete, enquanto a protagonista não come nada. Explorando o parque, ela se depara com uma enorme casa de banho e na ponte encontra com um menino chamado Haku, que a manda ir embora. Nesse meio tempo anoitece e seres estranhos começam a aparecer. Chihiro, assustada, corre para os seus pais, que são transformados em porcos. Ela então percebe que entrou em um mundo espiritual, e para conseguir seus pais de volta, é obrigada a trabalhar na casa de banho e mudar seu nome para Sen. Chihiro passa por grandes desafios, encarando o  crescimento e amadurecimento na tentativa de recuperar seu nome, seus pais e retornar ao mundo humano.
análise semiótica
do cartaz oficial
Ao buscar o cartaz oficial do filme, ficamos na dúvida de qual seria, visto que um deles é a capa comercializada do filme Blu-ray e o outro aparece nas pesquisas como oficial. Em meio a esta ambiguidade analisamos os dois.
primeiridade
O primeiro cartaz apresenta uma paleta de cores mais vibrantes e saturadas, com uma forte presença do azul, além de uma disposição com um maior número de objetos que ocupam todos os lados do cartaz. Já no segundo, há uma predominância do preto com toques de vermelho e branco, além de uma figura central e um cenário no fundo.


secundidade
Os elementos do primeiro cartaz se encontram um pouco poluídos, apresentando diversas vezes a personagem de Chihiro e Haku em posições diferentes, sem um contraste específico. Há também um maior tamanho na figura central, assim como textos relativos ao filme e ao contexto alinhados a esquerda. Bem como é possível ver o mar e o céu (das predominâncias de azul) mas não há um grande contraste entre eles. No segundo cartaz, identifica-se a protagonista como a figura central em uma pose imponente, enquanto o cenário da cidade se apresenta de forma humilde embaixo dela, apresentando também vultos pretos não identificados e a personagem Sem-Face. Os textos relacionados ao filme se encontram alinhados pelo meio no topo, junto com o nome do filme e do diretor Miyazaki.


terceiridade
O primeiro cartaz traz uma sensação menos sutil em comparação ao segundo. O fundo em predominância azul, a repetição da personagem e a presença do Haku em forma de dragão remetem mais ao infantil, possivelmente uma tentativa do ocidente de relacionar suas expectativas sobre animação ligada ao universo infantil e atingir sua ideia de público alvo.  Existe um claro enfoque nas premiações do filme e os aspectos mais vendáveis de forma geral, o que provavelmente é a intenção considerando que é a capa oficial dos DVDs e Blu-Rays do filme. Já o segundo cartaz, o de possível lançamento do filme, apresenta a personagem em uma pose pouco relacionada ao infantil, mostrando intencionalidade, bravura e disposição, elementos que são mostrados pela personagem pelo percurso do filme. O cenário no fundo também é disposto em segundo plano, mostrando apenas o necessário para relacionar os lugares do filme com a personagem, dando ainda mais enfoque na importância de Chihiro na história. O uso da paleta restrita de preto, vermelho e branco, junto com a simplicidade da organização dos elementos, remetem mais a sutileza temática do filme, assim como para trazer outro ar para o cartaz, oposto ao primeiro, chamando atenção de um público-alvo um pouco mais velho. A escuridão do cartaz fica em contrapartida de uma iluminação e coloração mais abrangente presente na película.
análise dos principais
aspectos de  linguagem
personagens
Chihiro
É a personagem principal da obra. É uma menina de 10 anos, mimada, covarde, desengonçada e introvertida que se sente desconfortável com sua nova realidade ao se mudar de cidade. Durante o filme se depara com diversos desafios e problemas que a levam a enfrentar seus medos e atitudes infantis, consequentemente, levando-a a encarar seu crescimento e amadurecimento. Chihiro passa pelos mesmos obstáculos que qualquer adolescente passa: a aceitação em um mundo que não conhece, o desejo pela aprovação de seres que dominam o ambiente (adultos), como enfrentar os sentimentos de distanciamento dos pais, assim como, o primeiro amor. Este conflito principal dita o ritmo da temática do filme: a passagem da infância para a adolescência e a fase adulta. No final do filme após a personagem passar por dificuldades direcionadas principalmente para adultos, ela reafirma suas raízes e supera sua infância. Os eventos do filme se dão de forma não só literal como também simbólica em relação ao tema central da obra. Um exemplo são os pais dela se transformando em porcos, na qual a protagonista deixa de enxergar figuras paternas responsáveis pelo seu desenvolvimento e passa a vê-los de forma “impura” – literalmente animais – e vulnerável, que é um acontecimento marcante que determina o início de sua adolescência. Esse acontecimento se dá tanto de forma denotativa e literal – Yubaba os transforma em função de terem comido a comida dos seus convidados – como também conotativa. Além desta primeira análise conotativa, a transformação dos pais em porcos também remete à característica da gula do animal, que foi associada aos pais de Chihiro pelo fato de terem se alimentado desenfreadamente da comida de outras pessoas e foram então associados e transformados pela sua identificação com a atitude do suíno.
Haku
O personagem é mão direita de Yubaba, aprendiz de feiticeiro e amigo de Chihiro. No decorrer da trama ele relembra ser o espírito do rio Kohaku, que havia perdido suas memórias graças ao feitiço da bruxa ao roubar o nome de seus trabalhadores. O Haku é um personagem responsivo, quieto, severo, além de manipulado constantemente pela Yubaba. Haku pode ser visto como um personagem fortemente rodeado pela conceito da secundidade visto que suas atitudes e reações são fortemente influenciadas por seu instinto – no caso de Chihiro uma forte vontade de ajudá-la sem saber o por que num primeiro momento – e sua responsividade aos pedidos inquestionáveis de Yubaba. Ele também representa a morte e a retomada de valores sociais, uma vez que sem perspectivas para o futuro, ele desiste de seus valores e desejos pessoais para se tornar aprendiz e braço direito de Yubaba. Sua forma como dragão é um vestígio de sua personalidade gentil e tola, assim como foi dito por Zeniba.
Sem face
O personagem é um espírito solitário caracterizado apenas por uma máscara em seu rosto. É convidado por Chihiro, sem permissão de terceiros, na casa de banho. Buscando aprovação e a atenção da protagonista, apesar de não saber se comportar na sociedade, o espírito tenta aprender com os frequentadores do estabelecimento, o que acaba levando-o a absorver toda a ganância e luxúria dos mesmos. Em detrimento disto, ele torna-se involuntariamente um dos obstáculos de Chihiro durante sua jornada. 
Sua função na narrativa é vagar sem rumo e absorver o que lhe dão, exatamente como uma criança. Uma alma inocente que vaga pela sociedade e absorve, aprende e desenvolve o que é lhe dado, no caso do enredo, ele aprende que o desejo por afeto requer sempre uma troca de valores, por isso durante toda a narrativa ele se vê frustrado por não conseguir “comprar” a protagonista. Assim, juntando tudo que aprende a partir de outros e não desenvolvendo seus próprios valores acaba sem identidade, por isso: sem rosto. No final da trama, ganha um propósito ao ser convidado por Zeniba a ser seu ajudante. Esse seu novo papel marca a quebra de sua relação de obsessão por Chihiro, única pessoa que o deu atenção, marcando sua evolução como personagem.
Yubaba
É a bruxa dona da casa de banhos, maior membro daquela sociedade, constantemente explorando de seus empregados visando lucro. Ela escraviza seus funcionários roubando seus nomes durante a assinatura do contrato, fazendo com que esqueçam o seu “eu” passado, personificado por seu nome. Yubaba controla toda a importância do trabalho expressada no filme, no momento em que pisam na casa de banhos a única opção é trabalhar no local, caso se recusem a bruxa os enfeitiça. O trabalho no filme é tido como uma questão de sobrevivência, os personagens prezam pelo seu trabalho para não serem castigados por Yubaba. Para a bruxa, a única coisa na qual ela se importa mais do que sua renda é seu bebê. Boh, é um bebê gigante, metáfora para sua criação mesquinha e luxuosa e que se conforma com o mimo de sua mãe e sua dominante maternidade ideológica. 
ritmo
O ritmo do filme é um pouco mais devagar do que os costumes Ocidentais. As cenas de conflito são sempre seguidas de cenários e/ou ambientação, ou seja, cenas mais leves, sem muito acontecimento que servem como uma pausa que convida quem está assistindo a refletir sobre o momento de ação e o escopo da história. Nessas ocasiões, sempre é mostrado tamanhos diferentes relativos a personagem principal (zoom-in ou zoom-out). Os acontecimentos principais são distanciados entre si para representar um crescimento gradual da Chihiro em seu amadurecimento. O tempo de cada cena é pensado de forma a refletir o seu desenvolvimento no contexto da história, assim como para apreciar pilares importantes da história como a própria ambientação muito bem pensada e sua trilha sonora condizente.
cenários
Os cenários do filme foram criados de modo a refletir a relação entre o mundo espiritual e o mundano, estabelecendo semelhanças e diferenças entre os dois. Um exemplo dessa ligação seria o espírito do rio representado primeiramente como um espírito do mal cheiro. O personagem ao ser purificado por Chihiro durante seu banho de ervas revela objetos e resíduos presentes no mundo humano, como: bicicletas, geladeiras, pneus, cadeiras etc, servindo então como uma ponte entre os dois universos.
Os principais cenários encontrados durante a narrativa são: O mundo Humano, ambientação que dá início a história; A Casa de Banhos, estabelecimento de Yubaba que serve deuses cansados e a Casa de Zeniba, uma pequena residência encontrada na sexta parada, Fundo do Pântano.
No decorrer da narrativa, observa-se também entre os cenários principais do filme – Mundo Humano, Casa de Banhos e Casa de Zeniba – um elo que os liga e um obstáculo que os impede de voltar; do mundo humano para a casa de banho é o antigo parque de diversões e sua volta é bloqueada pelo mar que rompe o elo. Já entre a casa de banhos e a casa de Zeniba fica a estação de trem que liga os dois cenários, sendo que sua volta não pode acontecer visto que o trem é só de ida.
iluminação e cor
As cores mais predominantes do filme são o azul, o branco, e o verde para os cenários e o vermelho pontualmente nos edifícios e decorações do mundo espiritual. Na vestimenta da protagonista são encontradas todas essas cores com exceção do azul – cor característica do personagem Haku. Adotando interpretações subjetivas da cor constatamos que o verde da roupa da Chihiro pode simbolizar sua juventude e crescimento, ou seja, o fato de que a protagonista tem um longo caminho até o seu amadurecimento, visto sua personalidade no início do filme, que será conquistado no fim de sua jornada. Já quando Chihiro muda para o vermelho, passa a simbolizar a coragem e a sua determinação, fatores desenvolvidos em escala durante a película. 
O Haku, adotando o azul e o branco, transmite sua neutralidade, profundidade, serenidade e calma, complementando a interpretação cromática da Chihiro.
Já a iluminação acompanha as mudanças da vida da protagonista. De manhã, não há elementos significativos de mudança no enredo, assim como das decisões da personagem. Ao anoitecer é que dá início aos acontecimentos e decisões que exigem certo posicionamento da Chihiro, ajudando em seu amadurecimento e tomada de decisões que alteram o rumo da obra. Na casa de banho está sempre presente uma iluminação artificial que remete denotativamente à necessidade de claridade do estabelecimento dado o seu funcionamento a partir do anoitecer. Analisando de maneira conotativa, visto que a casa de banho faz parte de um mundo inteiramente novo, místico, cheio de criaturas surreais para a protagonista, a iluminação sintética pode ser relacionada com um universo artificial em primeira instância.
trilha sonora
A trilha sonora é composta principalmente ao redor de três músicas centrais - Day of the River, It's Hard Work, Reprise / Again e Always with You.
A primeira é a de abertura, que representa sonoramente toda a essência do enredo. A segunda é a música que acompanha a rotina de trabalho, aparecendo apenas quando a Chihiro está exercendo seus deveres na casa de banho. A terceira é a melodia marcante da cena em que a protagonista e o Haku caem juntos após o dragão relembrar de seu nome e consequentemente, sua identidade. Já a quarta e última marca os créditos do filme, sendo a única música com letra. A trilha sonora de forma geral é marcada por características melancólicas e o sentimento de nostalgia, complementando as sensações de estranheza ao se deparar com um mundo novo e as memórias de um passado nem-tão distante, acentuando a importância dos temas principais do filme.
análise detalhada 
crédito
No início do filme é mostrado Chihiro e sua família no carro durante sua mudança para outra cidade. No decorrer da viagem fica claro a personalidade da protagonista, assim como sua revolta em relação à nova  realidade. Em seguida, o carro segue uma elevação e aparece o título da obra sob a música tema do filme. Essa cena em relação às outras não tem muita ligação com signos, até mesmo para o próprio título ela não oferece muito destaque. Uma análise por meio da primeiridade nos leva a crer que sua importância para o enredo é estabelecer a personalidade e caráter da protagonista, firmando seus valores para que vejamos com mais clareza sua mudança no decorrer do filme.
cena 1 - banho do espírito do rio 
Na casa de banho entra um hóspede chamado espírito de mal cheiro, que visualmente parece uma montanha de lama. Ele é rejeitado, as pessoas tentam expulsá-lo, e o seu forte odor incomoda os hóspedes e os funcionários. Chihiro ô leva até a banheira e fica responsável pelo seu banho. Ela usa a melhor infusão de ervas, roubada por Sem-Face, e uma grande quantidade de água quente. Chihiro tem dificuldades em andar na lama transbordando, mas acaba conseguindo ligar a água. Yubaba a observa e ri de sua dificuldade. Ao encostar no espírito, Chihiro sente um “espinho” e avisa Yubaba, que a manda prender uma corda. Os funcionários a ajudam a puxá-la, e Chihiro percebe que era uma bicicleta. Ao puxar com mais força, a bicicleta sai junto com uma grande quantidade de lixo aparentemente humano. A lama some e a poluição é retirada, revelando que o espírito do mal cheiro era na verdade um espírito do rio que estava preso na poluição. Sua aparência é revelada como um dragão feito de água com um rosto de velho, que voa para fora da casa de banho, deixando para trás pedaços de ouro no lixo humano. Chihiro, ao abrir sua mão, percebe que o espírito do rio a deixou um bolinho de ervas, na qual quem come tem o corpo purificado e devolve a vida, resultando na mesma purificação que Chihiro fez com o próprio espírito do rio. A cena, assim como o filme como um todo possui várias camadas que podem ser interpretadas de diversas maneiras, assim, é preferível um interpretante lógico, que possa absorver sua camada mais superficial e analisar mais profundamente suas possíveis interpretações. Os aspectos visuais utilizados para construir o espírito do mal cheiro e sua consequente transformação em espírito do rio servem como Índice para o diretor, transpondo a forma na qual vemos a poluição e o mau cheiro como um signo Icônico, para a forma grotesca inicialmente rejeitada pelos trabalhadores. Os objetos aparentemente humanos que saem dele reforçam a ideia de Índice e Legi-Signo, já que pode ser lido que a interferência humana desatendida foi o que causou a transformação de algo claramente espiritual e “limpo” (como vemos na clareza das águas e na forma de dragão com uma máscara oriental que nos lembra longevidade e espiritualidade) em algo tenebroso. Curiosamente, a única pessoa que consegue ajudar o espírito em seu mal estado é Chihiro, uma humana, sugerindo por trás desta leitura que apenas um humano seria capaz de resolver os problemas que também foram causados por humanos.
cena 2 - Haku lembra o seu nome 
Após a devolução do selo roubado de Zeniba, Haku aparece para buscar Chihiro e se desculpar com a gêmea bruxa. Em seguida, durante a volta para a casa de banho, a protagonista conversa com o dragão sobre uma lembrança de quando caiu num rio, cujo nome era Kohaku. Num vislumbre, ela relaciona o amigo com o nome do rio e o mesmo volta a ser um humano. Haku diz a Chihiro que seu nome verdadeiro é Nigihayami Kohaku Nushi e que ele a salvou quando ela caiu nele. Após isso eles voltam juntos a casa de banho para resgatar os pais da protagonista. Nesta cena, é explicitado visualmente um dos conflitos que percorrem a trama: o nome, o si, e a exploração do indivíduo ao retirar dele sua essência. Na lógica do filme, ao assinar seu nome e o passar para Yubaba, o nome vira um  signo icônico que representa diretamente a essência e liberdade pessoal daquela pessoa, tal qual a retirada e transformação do nome da pessoa resulta na perda das mesmas. Sua forma como dragão simboliza, então sua perda de consciência social - sua identidade - ao se rebaixar a aceitar seu ”destino” como capacho do maior nome da burguesia. Ele se torna uma metáfora de valores assinados, se tornando uma ”maldição mística” em formato de dragão. Quando Haku é lembrado de seu nome por Chihiro, volta a si sua memória, sua essência e sua liberdade individual, uma vez que tinha esquecido do mesmo. É interessante ao relacionar ambas as coisas, já que um nome nos parece muito mais palpável de esquecer do que um conceito abstrato de livre arbítrio ou liberdade de escolha. A forma de dragão de Haku, como explicado no personagem, é quebrada, mostrando-nos visualmente sua mudança ao lembrar de si mesmo, características antes mais conectadas com sua forma de dragão e, agora, mais fortemente ligadas a sua forma “humana”. 
considerações finais
A Viagem de Chihiro (2001) dirigido por Hayao Miyazaki é mais uma obra prima de sua longa carreira como diretor. Fiel aos valores e características constantemente presentes de seus longas, o filme de 2001 tornou-se mais um espetáculo visual e exemplo para outros filmes de animação. Além de ser um excelente filme, ele também possui uma narrativa profunda que requer uma análise mais detalhada de seu conteúdo, o que contribuiu para o estudo a partir dos conceitos semióticos requeridos por este trabalho. O grupo se divertiu e empenhou muito durante a realização do mesmo, visto que é um filme na qual todos guardam uma certa nostalgia e paixão, o que facilitou muito no engajamento. Gostaríamos de agradecer ao Prof. Umeda pela oportunidade de expressar os conceitos estudados em um filme que para nós é tão significativo. O fator de escolha do material audiovisual contribuiu para o nosso entendimento através da facilidade ao relacionarmos algo de gosto do grupo com o conteúdo aprendido em aula e esperamos que continue aplicando este projeto para outras turmas de design.

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