[ Letícia
Parente ]
CURADORIA
Projeto de Curadoria no Facebook sobre a artista Letícia Parente, para a aula de Arte e Tecnologia do segundo semestre de Design da ESPM-SP projeto por Ana Miyazaki e Leonardo Baldoni, orientado pela professora Silvana Novaes Ferreira e o professor Wilson Bekesas.
[ 2018-2 ]
introdução
O trabalho e Arte produzida por Letícia Parente é um resultado direto da importância processual e utilização de diversas mídias de exposição que estavam em crescimento em sua época, onde o contexto da Ditadura Militar Brasileira e o começo da Arte Contemporânea no mundo ajudaram a construir a identidade experimental e crítico-social de suas obras, especialmente focado no papel da mulher naquela sociedade, como ele era vivido e representado.
A questão norteadora de nossa curadoria volta na ideia do papel da mulher na sociedade, interpretado para nossa época onde muitas das questões levantadas por Letícia a 50 anos atrás ainda perturbam nosso mundo e como vemos as mulheres. Sua obra, portanto, tão atual como nunca, será discutida, analisada e reinterpretada por nossos conceitos mais recentes e discussões atuais sobre os movimentos feministas, a feminilidade e o próprio corpo.
marca
   registrada
Marca Registrada (1975) tornou-se sua obra mais emblemática. Além de ser caraterística da body art, demostra choque e dor; tem como simbologia a ditadura militar em sua fase mais violenta, marcada por um momento de repressão da expressão artística e de imprensa; no vídeo a artista equilibra performance, texto e poética. A obra começa demonstrando a câmera fixa enquanto mostra Letícia costurando sua sola do pé com agulha e linha, e após 10 minutos podemos ver a escrita “Made in Brasil”. O papel da arte nessa época serviu como uma passagem para outro lugar; já que não havia a possibilidade do diálogo por causa da censura da ditadura, o corpo servia como uma narrativa; nessa época, ser “feito no Brasil” implicava tortura, assédio moral e sofrimento.
De acordo com Letícia: “A fase do corpo que testemunha situações culturais, políticas e sociais culminou em um trabalho de vídeo que de todos foi o que conseguiu a sigla mais forte (…). Nesse trabalho eu costuro na sola do pé com uma agulha e uma linha preta as palavras Made in Brasil na pele. É uma agonia! Dá muita aflição, porque a agulha entra, fere o meu pé – só podia ser o meu próprio.”
Uma de suas obras inspiradas pela imagem analógica da mulher é Preparação I, onde acontece na tela uma encenação marcada, quando Letícia, ao se preparar para sair, se olha no espelho de um banheiro, colando esparadrapos sobre os olhos e redesenhando o contorno dos mesmos com um lápis, fazendo uma repetição do gesto com a boca.
Letícia Parente afirma uma representação feminista quando relata sobre sua obra Preparação 1; o “corpo da mulher todo escrito com as suas fissuras, o olhar, os braços […] o contorno do corpo todo feito da própria função do corpo – não no sentido só da função física, mas de uma função social-humana”. O seu trabalho surge paralelo ao movimento feminista nos Estados Unidos e na Europa, em especial na discussão sobre o fato que os homens ocupavam a maior parte do espaço expositivo de galerias e museus. Muitas mulheres a partir daí iriam utilizar a sua performance para questionar essa posição. Os vídeos de Letícia mostram características comuns no espaço doméstico, e as ações remetem ocupações “femininas”, criticando essa opressão.
preparação 1
tarefa 1
O vídeo Tarefa 1 mostra a artista deitada em uma tábua de passar roupa, enquanto outra mulher passa a roupa da artista a ferro. Os rostos estão fora do quadro, demonstrando apenas seus corpos, sem falas, com o conceito de opressão das tarefas e atividades do cotidiano, normalmente denominadas a mulher. O "passar" de roupa em relação ao corpo também faz parte do conceito, onde o corpo se encontra no papel de roupa: é preciso que seja bonito e esteja arrumado, lavado e bem passado, e é igualmente descartável nos olhos do outros.
A artista viveu na ditadura e não podia se pronunciar, então essa arte, junto com In, Preparação I, II e Marca Registrada, eram protestos feministas.
pro - 
  jeto
      158
Seu projeto mais famoso de fotografia é Projeto 158, 1975. Nessa obra, Letícia se apropria de imagens de rostos de modelos femininas e faz deformações aos seus rostos, deixando-os mais longos ou mais curtos. Esse projeto é uma crítica a problematização das características das mulheres sociais, onde seus aspectos físicos são julgados pela sociedade e seus aspectos psicológicos acabam sendo afetados.
arte in
Em seu vídeo arte In, Letícia se encontra entrando dentro de um armário, se pendurando junto com a roupa que está em seu corpo em um cabide, e em seguida fechando o armário, como se tivesse virado roupa, representando a artista se armazenando junto com o tempo. Ela aborda algumas questões para refletir: quantas vezes nós colocamos roupas em nossos armários? E pensando mais fundo: quantas vezes nós se trancamos no quarto? quantas vezes queremos nos isolar, por conta de ansiedade, mas talvez também pelo simples fato que queremos tranquilidade? Ela reflete que no nosso dia a dia as coisas acontecem uma depois da outra, e na opressão feminina das tarefas e preparações do cotidiano. Ela critica a representação de como vemos a mulher como algo usável que depois guardamos quando não necessitamos mais.
a casa
e as mulheres
Letícia acreditada no construtivismo, ou seja, ela acreditava ser a realidade o ponto de chegada, e não o de partida; ela usa suas imagens para produzir um efeito de realidade. Em seus trabalhos de arte postal, de xerox, a mais conhecida é a Casa e as Mulheres, onde a artista fala sobre o papel e a condição da mulher na sociedade.
Uma das imagens mais famosas de suas obras de xerox é a que demonstra o rosto de uma mulher, com alfinete enferrujado nos olhos e na boca.
A seguir, comparamos a obra de Letícia com a nossa recriação, onde recriamos com nossos próprios rostos. Nossa recriação não é puramente cópia no entanto; utilizamos do alfinete não enferrujado e da cópia cortada e repostada como ferramentas visuais para indicar a mudança com quais essas questões são vistas hoje em dia, onde a luta dos direitos e da libertação do papel da mulher na nossa sociedade patriarcal é muito mais conhecida e propagada que na época, mas ainda é vista por muitas pessoas com grande desdém.

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